Conclusões do Seminário Profissionais de Informação, Uma Mais-Valia

 

Para assinalar os 10 anos do edifício da Biblioteca da Universidade de Aveiro e os 20 anos da INCITE – Associação Portuguesa para a Gestão de Informação, a Biblioteca da Universidade de Aveiro e a INCITE levaram a cabo durante todo este já longo dia o seminário, que está agora no seu final, subordinado ao tema, «Profissionais de Informação, Uma Mais-Valia». 

Sobre a importância da biblioteca, ontem como hoje, dentro da universidade, enquanto polo por excelência do espírito universitário, agregador e difusor de saberes e de conhecimentos, mas também espaço de interação e de socialização, prestando ontem sobretudo serviços presenciais e hoje, e/ou sobretudo no futuro serviços à distância, julgamos não ser necessário dizer muito. Essa é já e será cada vez uma realidade evidente e inelutável.

Sobre a importância que a Biblioteca da Universidade de Aveiro tem para esta Casa, tal fica suficientemente atestado, quer pela excelência estética e funcional da arquitetura do novo edifício, quer pela riqueza, diversidade e modernidade dos seus fundos, quer pela organização deste evento, quer pela presença da [representante] da Reitora da Universidade, que abriu os trabalhos, quer ainda pela intervenção do Professor Júlio Pedrosa que aqui evocou as suas experiências na Biblioteca desta instituição. 

Sobre a história dos últimos 10 anos de vida dos Serviços de Documentação da Universidade de Aveiro falou-nos a sua responsável, desde há alguns anos, Laura Lemos, destacando os dois marcos-chave da última década: 

  • a construção do novo edifício e;

  • o desenvolvimento das coleções nos novos formatos digitais, designadamente o CD-ROM e as bases de dados em linha;

Os quais correspondem afinal às exigências trazidas pelo crescimento da própria Universidade e pela evolução tecnológica. Não esquecendo, todavia, o surgimento de outras unidades documentais que integram a rede de bibliotecas da Universidade, as doações, as melhorias dos serviços tradicionais da Biblioteca introduzidas pelas novas tecnologias e o aparecimento de novos serviços e produtos, de que nos permitimos destacar o motor de pesquisa bibliográfica Colcat, a formação dos utilizadores nestes novos produtos e serviços e, por consequência, as novas competências que se exigem aos seus profissionais.

Seguiu-se a intervenção de Odete Santos, presidente da INCITE e consultora na área da Informação e da Documentação, na qual traçou detalhadamente o percurso de duas décadas da organização a que preside: quer enfatizando o valor da Informação como recurso vital das organizações; quer desenvolvendo ações para a definição e consecução de uma política de Informação Científica e Técnica – como então era designada; quer assegurando a promoção de novos métodos e ferramentas de gestão de informação, em áreas multidisciplinares, tais como o marketing, a terminologia, a ética, e mais recentemente as competências e a certificação profissionais. Contribuindo deste modo decisivamente para cumprir os desígnios iniciais da INCITE: a valorização da identidade dos profissionais de Informação e a promoção do acesso à Informação como valor de cidadania. Assim se concluiu a primeira parte da sessão da manhã em que se explanaram os percursos recentes das duas instituições organizadoras do evento.

Após a apresentação, de Phierre Ghislain, das versões impressa e eletrónica (a qual permite a encomenda e o download online) da 2.ª edição do Euro-referencial de Competências I-D, obra que identifica e agrupa as competências necessárias ou úteis aos profissionais de I-D, bem como os respetivos níveis de qualificação e que foi publicada em Portugal pela INCITE, com a autorização da ADBS – Association des Professionnels de l’Information et de la Documentation, entrou-se no primeiro painel. 

Painel I – Uma profissão, vários contextos

Este primeiro painel, intitulado Uma profissão, vários contextos, reuniu um conjunto de profissionais de Informação e Documentação, que representam outros tantos contextos sócio-profissionais nos quais exercem a sua profissão. Pudemos ouvir, assim, as diferentes perspetivas de profissionais que interagem em segmentos distintos desta realidade plural que é a Informação e Documentação, desde as bibliotecas escolares, às bibliotecas especializadas, às bibliotecas do ensino superior, às bibliotecas públicas, à Biblioteca Nacional.

Relativamente às bibliotecas escolares, Maria José Vitorino, Coordenadora do THEKA, Projeto de Formação de Professores Responsáveis pelo Desenvolvimento de Bibliotecas Escolares da Fundação Calouste Gulbenkian, acentuou a especificidade e a heterogeneidade desta realidade, não deixando de realçar a importância das bibliotecas escolares como elos da rede mais vasta que constitui a Sociedade da Informação e do Conhecimento. Situando-as quer no contexto internacional, quer no contexto nacional em que esta realidade conta já com 1500 unidades nos diferentes níveis do ensino não superior. 

Um outro segmento da Sociedade da Informação são as bibliotecas especializadas, realidade aqui abordada por Arminda Sustelo, do Centro de Documentação do Hospital Fernando Fonseca/Amadora-Sintra e presidente da APDIS – Associação Portuguesa de Documentação e Informação da Saúde, em cuja apresentação traçou o percurso das bibliotecas especializadas na área da saúde, em Portugal, na última década, integrando-o no contexto de mutação tecnológica entretanto verificado, o que criou novos desafios aos seus profissionais, acentuando a necessidade de desenvolverem novas competências. Não foi esquecido o papel desempenhado pela APDIS enquanto «linha-âncora» – como lhe chamou – para os profissionais destes unidades documentais.

As bibliotecas do ensino superior foram também aqui abordadas por Carlos Lopes, assistente universitário e diretor da Biblioteca do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) que, na linha das intervenções anteriores, abordou as profundas transformações sofridas por estas bibliotecas, em resultado de processos exógenos a elas, tais como o Processo de Bolonha, o POSI, o Projeto B-on, o Euro Referencial, mas que obrigaram os seus profissionais a desenvolverem novos modos de atuação e em consequência a alterarem o seu perfil tradicional. Como o próprio refere, de forma muito sugestiva, «o maior problema que hoje enfrentamos é que o mundo que temos nas nossas cabeças, já não é o que temos debaixo dos pés». Para além disso, assentou a sua apresentação numa linha essencialmente problematizadora e prospetiva, interrogando o papel das bibliotecas do ensino superior no processo de construção do novo Espaço Europeu do Ensino, perspetivando e antecipando algumas implicações do Processo de Bolonha nas bibliotecas universitárias.  Concluindo que doravante «[…] as bibliotecas terão que gerir e proporcionar mais-valias através dos serviços e recursos de qualidade relacionados com o mundo da informação num novo ambiente educativo».

Um outro segmento muito importante desta realidade multifacetada são as bibliotecas públicas, cuja abordagem, não foi, infelizmente possível, conhecer neste seminário, por impedimento de última hora de Rui Neves, presidente da LIBERPÓLIS – Associação para o Desenvolvimento da Leitura Pública. Fica-nos, porém, o «apetite» para a ler nas atas que oportunamente sairão.

Em seguida, Fernanda Campos, subdiretora da Biblioteca Nacional, começou por percorrer o seu percurso profissional de 30 anos na Biblioteca Nacional, sublinhando as áreas de competência mais relevantes e destacando alguns aspetos centrais, como sejam: a importância da especialização numa instituição generalista como a BN; a criação e a sustentabilidade de projetos cooperativos; a consolidação de competências de gestão e de coordenação de equipas; a importância da atualização contínua de conhecimentos, nomeadamente na utilização das TIC; e por último, o ensino e a formação de profissionais como forma de transmitir, mas também de receber conhecimentos e saberes. 

Já na parte da tarde e antes mesmo do 2.º painel, Sandra Caldeira, da Equipa Técnica dos Serviços de Documentação da Universidade de Aveiro, apresentou, sob a forma de póster, os resultados do inquérito aos utilizadores e aos profissionais da Biblioteca da UA, sobre a Imagem Externa e Interna das Competências dos Profissionais das Bibliotecas. Realça-se, no que diz respeito à Imagem Externa, a expressão da adesão dos utilizadores ao questionário, pois foram distribuídos 1000 questionários e recebidos 793, bem como a importância conferida às competências relacionais, Simpatia e Disponibilidade, com respetivamente 28,2% e 17,7%, em detrimento do item Competência, mais ligado às competências técnicas, com 13,2%, isto quando confrontados com a pergunta: O que mais gosta num profissional de Informação-Documentação?

Quanto à Auto-Imagem, é curioso registar a coincidência entre os pontos de vista dos utilizadores e dos profissionais, quando 100% destes últimos apontam como Importante ou Muito Importante, nas competências futuras, o Relacionamento com Utilizadores e Clientes, bem como a perceção da mutação profissional constante a que estão sujeitos, ao classificarem, na sua totalidade, como Muito Importante ou Importante, as Estratégias de Desenvolvimento:  Aprendizagem ao Longo da Vida, Certificação Profissional e Aposta no Desenvolvimento de Saberes Complementares. O que permite perspetivar e deixar aqui uma nota de otimismo sobre a profissão de Informação-Documentação, uma vez que parece estarmos perante profissionais sensíveis e conscientes dos novos desafios, polivalentes e capazes de aprender ao longo da vida.

Painel II - Investigação e competências no domínio da Ciência da Informação

Iniciou-se, então, o 2.º painel, subordinado ao tema Investigação e competências no domínio da Ciência da Informação, cuja primeira apresentação esteve a cargo de Zita Correia, investigadora do INETI – Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, na área da Ciência e da Gestão de Informação. Abordando o tema do desenvolvimento de competências numa organização de Investigação & Desenvolvimento, bem como a formação de investigadores nas áreas da Ciência, Engenharia e Gestão da Informação, Zita Correia começou por distinguir qualificações e competências, para em seguida se centrar nas estratégias de desenvolvimento de umas e de outras. Referiu, relativamente ao INETI, o papel desempenhado pelo Conselho Científico, pelos orientadores e pelas equipas de projeto. Realçando ainda o papel do contexto organizacional, da mobilidade e da divulgação dos resultados da investigação produzida.

Em seguida, Paula Ochôa e Leonor Gaspar Pinto, da Comissão de Observadores do Observatório da Profissão de Informação e Documentação (OP-ID) deram-nos o estado atual das atividades do OP-ID, designadamente o lançamento dos inquéritos – à Auto-Imagem e à Imagem Externa. Após traçarem o contexto em que surgiu esta nova estrutura, filiada nas experiências externas e no reconhecimento que atribuem a questões como a certificação profissional, as estratégias identitárias dos profissionais I-D, os sistemas de gestão de competências e o valor social da profissão no panorama europeu, abordaram as opções metodológicas subjacentes aos questionários e sintetizaram as suas principais variáveis, designadamente: a identificação profissional, a carreira profissional, as competências profissionais e os cenários futuros, identificando ainda os diversos grupos que foram inquiridos.

Por último, Cláudia Gomes e Ana Inácio, da Equipa Técnica do OP-ID, apresentaram os primeiros dados do inquérito relativo à Auto-Imagem dos Profissionais I-D, porventura antecipando um pouco o que irão ser os resultados finais. 

Julgamos que, com a diversidade, atualidade e oportunidade das intervenções produzidas neste seminário, que darão origem, a curto prazo, à edição das respetivas atas, quer os 10 anos do edifício da Biblioteca da Universidade de Aveiro, quer os 20 anos da INCITE, ficaram devida e condignamente assinalados. Pela «mais-valia» que proporcionaram, quer aos que as ouviram, quer aos que no futuro as irão ler, pensamos ter-se feito jus ao título do seminário, Profissionais de Informação, Uma Mais-Valia.

Paulo J. S. Barata

 

Contactos

Observatório das Profissões de Informação-Documentação (eOP-ID)

© 2014 Todos os direitos reservados.

Crie o seu site grátisWebnode