Relato do Seminário O valor dos profissionais de Informação-Documentação

Numa iniciativa pioneira, as quatro associações profissionais ligadas à área da documentação e da informação – INCITE, BAD, APDIS e LIBERPOLIS – estabeleceram um protocolo de cooperação com vista à criação e dinamização de um Observatório da Profissão de Informação-Documentação. 

A primeira iniciativa do Observatório, visando a  dinamização de uma estratégia de promoção da profissão junto das instituições e da sociedade civil, teve lugar a 11 de abril de 2005, no Pequeno Auditório do Edifício-Sede da Caixa Geral de Depósitos, no Campo Pequeno, em Lisboa, sob a forma de um seminário subordinado ao tema O valor dos profissionais de informação e documentação, o qual serviu para fazer a apresentação pública do Observatório.

O seminário, que reuniu mais de 150 profissionais que esgotaram a sala, foi constituído por dois painéis. 

  • O Observatório da Profissão de Informação-Documentação
  • A Profissão de Informação-Documentação: Narrativas Experienciais.

I Painel - O Observatório da Profissão de Informação-Documentação

O primeiro painel integrou duas intervenções: Observatório da Profissão de Informação-Documentação, na qual Paula Ochôa explicitou os objetivos do Observatório da Profissão, enquanto estratégia de valorização dos profissionais de informação e documentação, e Metodologia de Observação, em que Leonor Gaspar Pinto traçou o seu enquadramento metodológico e teórico. 

Na sua comunicação, Paula Ochôa começou por contextualizar esta iniciativa inovadora face ao ambiente envolvente e ao desenvolvimento e posicionamento profissionais, introduzindo ainda os conceitos de «profissão», «ocupação», «informação-documentação» e «profissional de informação-documentação». Em seguida apresentou e caracterizou a metodologia de funcionamento do Observatório da Profissão de Documentação e Informação (OP I-D), bem como as três linhas de ação programadas para 2005: 

  • Imagem social dos profissionais I-D; 
  • Certificação de competências; 
  • Disseminação de resultados por públicos-alvo específicos. 

Por último, apresentou uma visão sistémica da atuação esperada do OP I-D, em termos dos seus inputs, processos e outputs.

Na segunda comunicação deste painel, apresentada por Leonor Gaspar Pinto, foi detalhadamente explicada a metodologia aplicada ao estudo da Imagem das Competências dos Profissionais de Informação-Documentação, introduzida pela definição do conceito central de «competência», tendo sido destacada a importância, no quadro deste estudo, mas também do próprio desenvolvimento profissional, do Euro-referencial de Competências I-D. Descreveu-se, em seguida, as várias etapas metodológicas, dando-se particular destaque ao inquérito de opinião nas suas duas vertentes: 

  • Questionário sobre A Auto-Imagem das Competências dos Profissionais de Informação-Documentação;
  • Questionário sobre A Imagem Externa das Competências dos Profissionais de Informação-Documentação

Este primeiro painel culminou com a assinatura formal do protocolo de cooperação entre os presidentes das associações profissionais envolvidas, Odete Santos (INCITE), António Pina Falcão (BAD), Arminda Sustelo (APDIS) e Rui Neves (LIBERPOLIS).

II Painel - A Profissão de Informação e Documentação: Narrativas Experienciais

No segundo painel, A Profissão de Informação e Documentação: Narrativas Experienciais, tivemos essencialmente o relato de percursos de vida, de biografias de vários profissionais seniores de informação e documentação com longos e diversificados currículos que compartilharam com a assistência as suas experiências e o seu percurso profissional.

De algum modo, passou-se em revista, em discurso direto, através das palavras de quem as viveu, as últimas décadas da profissão em Portugal. Desde o aparecimento das associações profissionais, à realização dos primeiros congressos e encontros profissionais BAD, à especialização da profissão e da formação BAD, à normalização do tratamento documental, à automatização das práticas documentais, ao surgimento das bibliotecas públicas, à proliferação da formação BAD.

No primeiro relato da tarde, Zita Correia, investigadora do INETI, dividiu o seu percurso em três momentos. O primeiro em que a aposta foi na formação contínua e na reconversão profissional permanente; um segundo que intitulou Da universidade ao estranho mundo das organizações, em que ficou bem patente a distância entre os saberes académicos, adquiridos em contexto universitário, e os saberes profissionais, adquiridos em contexto laboral concreto; e um terceiro que designou por «reprofissionalização», com a aquisição de saberes teóricos de nível avançado: doutoramento, investigação, docência universitária e apoio a jovens investigadores.  

Seguiu-se a intervenção de Maria José Moura, Diretora de Serviços do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, cujo percurso profissional se confunde com a implementação da rede de leitura nacional de leitura pública – sem dúvida o projeto mais relevante na área cultural dos últimos 30 anos – desde o que chamou «grau-zero» das bibliotecas municipais à atual rede de bibliotecas públicas. Dos apoios que recebeu, destacou mais os contactos internacionais e o apoio de grupos informais portugueses do que a formação em Ciências Documentais, em Coimbra, colocando ainda o acento tónico no apoio e no estímulo aos profissionais mais jovens.

Na terceira apresentação da tarde, Odete Santos, consultora de Informação e presidente da INCITE, passou em revista todo o seu percurso profissional no Ministério do Trabalho com as diversas reestruturações orgânicas por que passou, não dissociadas das diferentes fases políticas e sociais da vida do país. Sublinhando as dificuldades sentidas na criação de um serviço documental de raiz, bem como a importância que assumiram na sua formação as suas ligações a iniciativas no estrangeiro, na busca de competências, de conhecimentos e de saberes que entre nós não existiam, abordou ainda a evolução registada no domínio das novas tecnologias de informação e comunicação e a sua aplicabilidade nos serviços de informação.

A quarta narrativa experiencial pertenceu ao único arquivista presente no painel, Silvestre Lacerda, do Arquivo Distrital do Porto, na qual realçou o seu percurso – diremos clássico – vindo da História para os Arquivos e a perceção interna da imagem externa do arquivista como um «arrumador de papéis». E, depois, tudo o que foi feito para alterar esse paradigma, desde a criação do Instituto Português de Arquivos, à perspetiva integradora do arquivo, com a intervenção do arquivista em todo o ciclo de vida dos documentos. 

Em seguida, Fernanda Campos, subdiretora da Biblioteca Nacional, começou por sublinhar a importância inicial, no seu percurso, do Curso de Ciências Documentais, em Lisboa, então nascente e já mais moderno do que o de Coimbra. E, recordando a sua experiência com fundos antigos, sublinhou a diferença e a tensão que sempre existe entre o profissional de informação e o investigador. Percorreu então a sua experiência profissional na Biblioteca Nacional, primeiro na área da Catalogação e depois como subdiretora, salientando todo um conjunto de projetos em que se envolveu e todas as transformações registadas na Biblioteca Nacional e na profissão nos últimos 20 anos: a automatização, os grupos de trabalho internacionais que coordenou, o apoio técnico, a gestão de recursos humanos e o apoio ao utilizador.

Seguiu-se a intervenção de Henrique Barreto Nunes, Diretor da Biblioteca Pública de Braga, que historiou o seu percurso que passou pela Arqueologia, pela História, e pelas Bibliotecas. E nestas, a evolução do seu perfil profissional até chegar a bibliotecário de leitura pública, bem como a reconfiguração do modelo da Biblioteca Pública de Braga. Tendo ainda sublinhado a abertura da biblioteca pública à diferença.

A última intervenção pertenceu a Lucília Paiva, que salientou o papel das competências adquiridas profissionalmente na sua atividade atual de «gestão», como provedora da Misericórdia de Santar, destacando o «serviço aos outros», presente quer no trabalho das bibliotecas, quer no trabalho das misericórdias. O que mostra bem que as competências que se exijem a um profissional de informação não se esgotam nas funções core da profissão. 

Tal como salientado no relato do painel, as sete narrativas experienciais permitiram «olhar», de forma retrospetiva, a experiência profissional passada e presente dos intervenientes, e conhecer melhor o que hoje somos enquanto profissionais, refletindo sobre a nossa própria identidade; mas também «lançar», de forma prospetiva, um «olhar» crítico para o amanhã, perspetivando o que irá ser a nossa profissão no futuro, apontando linhas e tendências, a que Observatório da Profissão não deixará certamente de dar resposta.

Paulo J. S. Barata, da Equipa Técnica do OP-ID, fez a súmula do segundo painel.

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